sábado, 30 de maio de 2009

The Great Escape.

Alguns dias atrás eu acordei e, não me pergunte como, tive certeza de que eu iria morrer naquele dia. Algo me dizia que era aquele dia. Algo sobrenatural me dizia que aquele era o dia. Minha alma me dizia que aquele era o dia da grande escapada. De início, eu não soube o que sentir. Sentei-me na cama e tentei absorver toda a grandiosidade da coisa. Não consegui. Lembrei-me de um trecho da série Harry Potter que Dumbledore dizia ao protagonista algo parecido com o fato de, para a mente bem estruturada, a morte ser a grande aventura seguinte. Ainda não sabia o que sentir. Apenas estava pregado na cama, olhando para o teto e com o pensamento no vazio. Não havia o que se pensar. Então, como eu não sabia o que fazer, eu fiz o que todas as pessoas do mundo fazem quando não sabem o que devem fazer: entreguei-me ao tempo.

E o tempo agiu espantosamente rápido. De algum modo, eu soube o que fazer. Coloquei meu edredon para o lado, sentei-me e coloquei meus pés no chão frio. O chão estava frio, e eu pude sentí-lo. Era duro e firme. Percebi que meus dedos se deslocaram para a borda do colchão e agarraram os lençóis. Senti os lençóis entre meus dedos, tentei mexê-los e eles se mexeram ao meu toque! Por algum motivo, fiquei maravilhado! Senti meu corpo subir e descer com os movimentos da respiração. Quase podia escutar meu próprio coração batendo no peito. Estava completamente alheio aos barulhos externos, tudo o que importava ali era o meu pé nu no chão, minhas mãos apertando os lençóis e a minha respiração.

Levantei-me e percebi meu equilíbrio. Fechei os olhos, inspirei, abri os olhos, e expirei. Caminhei até o espelho, aonde eu podia ver meu corpo inteiro. Toquei-me e senti a minha pele, músculos, ossos, cabelos e não conseguia parar de olhar pra mim. Aí então eu saí do meu transe e lembrei do fato que me levou à tal estado. Não conseguia me conformar. Eu tinho 19 anos e não fiz quase nada do que eu realmente gostaria! Já falei pra 2 pessoas que eu as amava mas eu estava lamentavelmente equivocado, nunca me apaixonei por ninguém. Não aprendi a tocar nenhum instrumento musical. Nunca salvei ninguém. Ninguém dependia de mim. Não escrevi um livro. Nunca viajei com amigos. Em meio a mais uma série de coisas, todos os fatos anteriormente citados passaram com uma velocidade absurda pelo espelho, bem grandes, ali, na minha frente. Novamente não soube o que fazer.

Mas o tempo trouxe a frustração a tona, e, dividido entre a raiva e o arrependimento, olhei pela janela. Vi pessoas caminhando. Algumas felizes. A maioria de mau humor, por ser tão cedo. Olhei pro céu. Aí eu me perguntei o porquê do mal humor. O alvorecer era lindo, um espetáculo maravilhoso e gratuito, que qualquer um pode ver. Impossível não abrir um sorriso de espanto e admiração. Estava ali suplicando para ser cortejado e ninguém o via! Por quê? Depois de alguns minutos olhando a bola de fogo sair do horizonte, fui ao banheiro e lavei meu rosto. Senti o jorro d'água da torneira e como ela era refrescante na minha pele. Escovei os dentes com aquela parafernália dental e senti a boca leve. Fiquei me perguntando se sempre foi assim, tão fácil ser leve. Olhei pro espelho, e a resposta em forma de cachorro veio e disse: não.
Eu poderia ficar aqui o resto da madrugada citando cada coisa que eu notei de verdade naquela manhã, mas acho que vocês já pegaram um pouco da idéia principal. E eu coloquei dois fatos importantes demais na minha vida em dois trechos dos parágrafos acima, não posso colocar mais.

O sol e o céu são lindos. Um sorriso, um abraço, uma torrada com geléia. Um olá. Era tudo tão gratificante, não pode deixar de me sentir feliz por, pela primeira vez na vida, notar a beleza dessas coisas triviais. Acho que Wilde disse algo parecido com relação aos prazeres triviais. Será que Wilde também precisou da sensação abstrata da morte para chegar à essa conclusão? Talvez. A questão é que ele estava certo. A valorização do belo e do sofisticamento simples são as chaves da felicidade. Como raios eu não pode notar isso antes?!
Evolution. Evolution. Evolution.

Um comentário:

  1. Uma grande amiga me ensionou que o segredo da felicidade é ver a beleza nas menores coisas, não se acustumar com o mundo(O MUNDO DE SOFIA) e sentir todos os dias a nostalgia de ontem, sem deixar de viver o de hoje(carpe diem) e sem se esquecer de pensar no amanhã;

    morrer é fácil, o difícil é sorrir todos os dias.

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