domingo, 24 de maio de 2009

A verdade.

A verdade não passa de um camaleão: ela muda dependendo da forma que você a vê. É a mesma coisa que você comparar um limão com uma melancia! Se você olhar a melancia de muito (muito mesmo) longe, pode pensar que é um limão, mas se você levantar esse traseiro estriado e gordo dessa sua poltrona e chegar mais perto, vai ver que não. Vai perceber que, além da melancia ser maior, ela possui listras em diferentes tons de verde, verá que é mais pesada, possui casca mais resistente e, se você ainda se dispor a cortá-la, perceberá que decididamente é mais gostosa, principalmente a parte do meio. A questão não é quem é o que, e sim quem raios resolveu falar que a melancia é uma melancia e que o limão é um limão sendo que as duas se parecem, de certa forma. Mas na minha opinião, o que realmente interessa é que as sementes da melancia são um saco, sua casca é dura e ela é pesada.

Neste sábado eu fui no café com letras com uns camaradas e a srta. A___ disse que a verdade é imposta por um grupo seleto da sociedade, discorreu também sobre conformismo com as coisas impostas e disse que tudo é um absurdo. Concordo, desde que o absurdo referido seja algo que tange o fato de você não saber distinguir uma melancia de um limão.

As pessoas tem preguiça de pensar; fato. Elas só vão perceber que uma melancia é uma melancia após se levantarem da poltrona da preguiça e verem bem o que estiveram olhando a vida toda. Elas só vão perceber que a melancia tem formato, textura, cor e sabor diferente do limão ao chegar perto e analisá-la. Apesar de ser mais cômodo você ficar na poltrona, eu realmente acho que vale a pena chegar e cortar uma melancia pra perceber como ela realmente é, afinal, ela é uma coisa boa. Mas também tem gente que acha mais cômodo deixar a melancia paradinha ali e ficar na eterna dúvida sobre qual das duas frutas localizadas à frente é a melancia e qual é o limão.

Suponhamos que existam duas pessoas sentadas em suas respectivas poltronas e que estas, por algum motivo qualquer, estão a observar nossas lindas frutas. No fundo, eles querem vê-las, querem sentí-las, mas por algum motivo qualquer, não querem se levantar da poltrona. Pelo mesmo motivo, jamais passou pela cabeça deles levantarem-se da poltrona. Os dois olham e tiram suas conclusões - quaisquer que sejam -, no final, cada um diz o que pensa, e, surpreendentemente, eles concordam entre si. Encantados com a conclusão, com a verdade instalada e com a aparente sincronia entre dois homens, um limão e uma melancia, ficou decidido que o limão estava do lado X e a melancia do lado Y. Aí aparece uma terceira pessoa, uma mulher. Essa mulher fala que ali não há limão ou melancia, e sim, macãs verdes! "-Meu Zeus! Que calúnia!" exclamam os dois em uníssono. Depois de breve discussão, os dois indivíduos anteriores chegam a conclusão de que ela está errada, pois está claro que ali há um limão do lado X e uma melancia do lado Y. Ela diz que os dois estão errados em julgá-la, afinal, os três estão parados olhando as frutas da mesma distância, então, o que cada uma é varia conforme a imaginação de cada um, e, se pra ela é uma maçã verde, então eles não tem nada a ver com isso. Os dois retrucam dizendo que são dois contra um, que eles estão ali a mais tempo e ainda a ameaçam dizendo que se ela não parar de questionar a brilhante conclusão dos dois, será obrigada a mexer sua poltrona alguns centímetros para mais longe. Nossa humilde mulher não quer ficar sozinha e diferente, então, ela acaba por retroceder, e, por 'algum' outro motivo, alguns anos depois, defende ferozmente a teoria do limão e da melancia. O mesmo aconteceu com o resto das pessoas que, por algum motivo, apareceram por lá.




Nosso pequeno narrador acha que a atitude dos dois primeiros homens está parcialmente correta, pois o desejo de descobrir as frutas era menor que o desejo de permanecer na cadeira. Admirou o fato de eles defenderem a sua opinião contra quem apareceu, e ficou impressionado como a defesa da idéia foi eficaz. Entretanto, o narrador discorda da atitude da mulher em determinados termos. Obviamente, ela estava correta em observar as frutas, pensar em algo e tentar dizê-lo, mas discorda do modo tolo e ineficaz com que o procedimento foi feito. O narrador também acha que melancias são melhores que maçãs verdes e limões, mas ele gostaria que uma das frutas fosse um limão, afinal, ele adora torta de limões.

Mas isso daí é apenas a opinião do nosso humilde narrador.

Um comentário:

  1. Já leu o texto O mito da caverna, de Platão?
    É a mesma idéia, sem a parte das frutas.
    Vale a pena você ler, quem sabe você não ache alguma verdade lá?
    Beijos! Ciana

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